| trânsito-rio | transitó-rio | 2007-2023

 

 

Foi Bruno Teixeira Martins, fotógrafo e videasta que, em 2007, registrou a primeira aparição do TRANSITÓRIO, documentário coletivo realizado naquele ano por alunos da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, da qual ele também fazia parte. O Cineclube tradicional da escola, onde eram exibidos e discutidos os trabalhos fechados ou em processo de montagem, era o encontro mais decisivo do semestre, e o mais rico.

Alex Cruz, idealizador do projeto, já tinha retornado ao Peru - essa a primeira função que o material gravado teria; Evelyn Acevedo, a roteirista, só soube das histórias dias depois da exibição e eu gravava, naquele dia, um especial sobre os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro para a recém nascida TV UOL. O único representante do TRANSITÓRIO na ocasião era o montador Luiz Cláudio Dias, que defendeu nosso trabalho sob uma chuva de provocações baratas e elogios tímidos, respectivamente dos professores mais antigos e dos mais jovens da ECDR. O próprio Luiz fez seu balanço: "Eu acho que a galera não estava preparada pra ver um filme diferente." Irônico que nossas referências iniciais eram mais que decodificadas, principalmente praquela maioria de cineastas e críticos sessentistas: IvensVertov!

O real frescor da pesquisa do Alex, na verdade, vinha dos contatos com o "Dormente" (2005), documentário de ensaio visual de Joel Pizzini - visto, revisto e transvisto por ele - e com a poesia de Augusto de Campos, especialmente as da série "ovo-novelo" (1955-57). O poema "tempo-espaço" trouxe uma possibilidade espacial no exercício do "tempo-sentido" e da teoria do "não-lugar", presentes, em diferentes escalas, também nos outros três realizadores citados. A ideia de múltiplas direções de leitura e pluri-combinações de sentido se refletiu na esfera imagética do material capturado: planos fixos a espera de uma ação (montagem interna), imagens subjetivas de elementos do espaço (plataforma de embarque/desembarque, chão da barca e da estação etc.), além daqueles que buscavam observar as pessoas, aproximando-se delas ou comportando-se, as vezes, como uma câmera de segurança.

Apesar de ter sido considerado um "filme de montador" - os professores não sabiam do acordo interno da equipe, que teria seu espaço criativo individualmente, ou seja, sem seguir a hierarquia imposta pela própria escola (diretor-roteirista-montador, na ordem de importância) -, foi a montagem quem deu ao público as maiores contribuições do curta: o uso do P&B, o contraste acentuado e a anti-decupagem de alguns planos, que existiam por si só, sem estar necessariamente ligado à outro.

É desse material que extraímos os primeiros teasers de divulgação do longa!


"tempo-espaço", poema de Augusto de Campos, série "ovo-novelo" (1955-57)
 

 

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